Índia e Sri Lanka: terras de esperança e missão - Parte 3

Finalmente era tempo de abandonar a Índia e mergulhar de cabeça na última etapa da minha experiência. Desta vez voei para outro país que, ainda que semelhante à Índia, encerrava muitas subtis diferenças. Era tempo de conhecer Sri Lanka.

Este país ainda marcado por uma guerra que acabou à pouco mais de meia dúzia de anos é um enorme campo de missão. Fui enviado durante mais de duas semanas para um centro onde acolhemos feridos de guerra e órfãos fruto deste mesmo conflito. O meu tempo foi dedicado a estar com as crianças órfãs. Nelas encontrei inocência e sinceridade, encontrei crianças famintas de carinho… Como não me comover com esta situação? Dei muito de mim a estes pequenos, mas sem dúvida que recebi muito mais destas pequenas criaturas de Deus. Que grande é o nosso Senhor! Nesta missão vivi o meu Natal, uma celebração marcada pela sua simplicidade, mas com a alegria de me sentir parte desta grande família que celebrava exultante o Menino que se fez carne entre nós!



Já no término da minha experiência fui enviado para uma comunidade de refugiados da terminada guerra. Uma comunidade de etnia cigana que se instalou no meio de extensos campos de arrozais. Foi muito gratificante ver como os claretianos trabalham com esta gente, como os jovens participam ativamente nas atividades da paróquia que aí se fundou e como a casa paroquial está sempre de portas abertas para receber qualquer um a qualquer hora. Um exemplo de entrega e disponibilidade. Nesta comunidade vivi a minha passagem de ano, escutando as doze badaladas enquanto celebrava a Eucaristia, dando graças ao Senhor pelo ano que tinha acabado. Uma passagem de ano muito especial.





Poucos dias depois despedia-me destas terras e voltava de coração cheio para o meu país e terra natal. Confesso que foi estranho voltar a viver a calma da minha casa, voltar a ter todas as mordomias ao alcance de um abrir de olhos. Depois desta experiência, dou muito mais valor a tudo o que tenho, a tanto que tenho e que muitas vezes não mereço… Voltei com um coração mudado, com um coração que tenta cada vez mais bater ao ritmo daqueles que mais sofrem, com um coração agradecido por tanto recebido, com um coração que sentiu todas as vossas orações, com um coração que voltou a descobrir que na humildade do amor o impossível se pode tornar possível! É certo que fiz muito pouco e que não mudei o mundo mas permitam-me que me refugie nas palavras de Santa Teresa de Calcutá: “ainda que pareça que o que fazes é uma gota no meio de um oceano, pensa que o oceano sem essa gota não é tão imenso!” Sejam valentes com a vossa entrega ao Senhor, pois ainda que algumas vezes escureça, sabemos que Jesus dorme na nossa barca. Sejam valentes para que, no final da vida, se vos perguntarem: “amaste?”, não seja preciso pronunciar uma palavra senão abrir os nossos corações cheios de rostos e nomes!

Volto a pedir que rezeis para que continue a ser barro húmido nas mãos do oleiro, pois ainda sou uma peça tão imperfeita! Peço também que rezeis para que Deus envie mais homens e mulheres capazes de abraçar radicalmente o seu apaixonante projeto de misericórdia!

 Comecei com uma palavra hindu, e termino com outra de um dialeto de umas das tribos com quem vivi: Jesunarasong, ou seja, louvemos sempre o Senhor!



Comentários