Finalmente era tempo de abandonar a Índia e
mergulhar de cabeça na última etapa da minha experiência. Desta vez voei para
outro país que, ainda que semelhante à Índia, encerrava muitas subtis
diferenças. Era tempo de conhecer Sri Lanka.
Este país ainda marcado por uma guerra que acabou
à pouco mais de meia dúzia de anos é um enorme campo de missão. Fui enviado
durante mais de duas semanas para um centro onde acolhemos feridos de guerra e
órfãos fruto deste mesmo conflito. O meu tempo foi dedicado a estar com as
crianças órfãs. Nelas encontrei inocência e sinceridade, encontrei crianças
famintas de carinho… Como não me comover com esta situação? Dei muito de mim a
estes pequenos, mas sem dúvida que recebi muito mais destas pequenas criaturas
de Deus. Que grande é o nosso Senhor! Nesta missão vivi o meu Natal, uma
celebração marcada pela sua simplicidade, mas com a alegria de me sentir parte
desta grande família que celebrava exultante o Menino que se fez carne entre
nós!
Já no término da minha experiência fui enviado
para uma comunidade de refugiados da terminada guerra. Uma comunidade de etnia
cigana que se instalou no meio de extensos campos de arrozais. Foi muito gratificante
ver como os claretianos trabalham com esta gente, como os jovens participam
ativamente nas atividades da paróquia que aí se fundou e como a casa paroquial
está sempre de portas abertas para receber qualquer um a qualquer hora. Um
exemplo de entrega e disponibilidade. Nesta comunidade vivi a minha passagem de
ano, escutando as doze badaladas enquanto celebrava a Eucaristia, dando graças
ao Senhor pelo ano que tinha acabado. Uma passagem de ano muito especial.
Poucos dias depois despedia-me destas terras e
voltava de coração cheio para o meu país e terra natal. Confesso que foi
estranho voltar a viver a calma da minha casa, voltar a ter todas as mordomias
ao alcance de um abrir de olhos. Depois desta experiência, dou muito mais valor
a tudo o que tenho, a tanto que tenho e que muitas vezes não mereço… Voltei com
um coração mudado, com um coração que tenta cada vez mais bater ao ritmo
daqueles que mais sofrem, com um coração agradecido por tanto recebido, com um
coração que sentiu todas as vossas orações, com um coração que voltou a
descobrir que na humildade do amor o impossível se pode tornar possível! É
certo que fiz muito pouco e que não mudei o mundo mas permitam-me que me
refugie nas palavras de Santa Teresa de Calcutá: “ainda que pareça que o que fazes é uma gota no meio de um oceano, pensa
que o oceano sem essa gota não é tão imenso!” Sejam valentes com a vossa
entrega ao Senhor, pois ainda que algumas vezes escureça, sabemos que Jesus
dorme na nossa barca. Sejam valentes para que, no final da vida, se vos
perguntarem: “amaste?”, não seja preciso pronunciar uma palavra senão abrir os
nossos corações cheios de rostos e nomes!
Volto a pedir que rezeis para que continue a ser
barro húmido nas mãos do oleiro, pois ainda sou uma peça tão imperfeita! Peço
também que rezeis para que Deus envie mais homens e mulheres capazes de abraçar
radicalmente o seu apaixonante projeto de misericórdia!
Comecei
com uma palavra hindu, e termino com outra de um dialeto de umas das tribos com
quem vivi: Jesunarasong, ou seja, louvemos sempre o Senhor!
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