A experiência seguinte foi em mais um colégio
claretiano. Colégio maior que o primeiro, onde a realidade de pobreza não era
tão dura. Tive a oportunidade de partilhar algum conhecimento com os alunos,
pois no colégio a língua oficial era o inglês. É muito bonito ver como os
claretianos tentam oferecer a estas crianças e jovens uma educação de qualidade
em valores, respeito e conhecimento, onde a fé tem um valor crucial. Visitei
algumas aldeias dos arredores e vi como tanta gente vive pobremente do que
colhe da terra, mas que ainda assim não hesita em dar o que tem dando sempre
graças a Deus por isso! Mas que grande exemplo de fé!
Na semana seguinte, já em Outubro, voltei ao
seminário onde fiquei na primeira semana e celebrei juntamente com os irmãos o
Dia de Santo António Maria Claret. Foi uma celebração muito bonita e bem
preparada, onde dei novamente graças a Deus pela experiência que estava a
viver, dei graças a Deus pela Congregação dos Missionários Claretianos, e
sobretudo por estar a celebrar o mesmo carisma e fé noutro lado do planeta,
numa cultura totalmente distinta, mas com a mesma alegria de sentir-me Filho do
Imaculado Coração de Maria. Que o seu coração de mãe me continue a servir de
exemplo.
Desde Calcutá viajei para o Nordeste da Índia
para iniciar a segunda etapa desta missão. Nesta zona a nossa missão consiste
em acompanhar a diversas tribos quase indígenas, nos limites entre a Índia e o
Bangladesh. Confesso que as semanas que passei nesta zona tiveram um tom
especialmente missionário. Os acessos às aldeias eram muito maus, com estradas
em péssimas condições onde, para percorrer 20 km, demorámos cerca de uma hora e
meia. O estado simplesmente ignora esta acolhedora e generosa gente e nós, missionários,
temos de ser a voz profética que luta pelos direitos de cada um. Pude conhecer
dois colégios, acompanhar as crianças e jovens que neles estudavam e visitar
algumas famílias que uma vez mais me acolheram qual rei com o melhor que tinham
nas suas humildes casas de palha e bambu. Pude vislumbrar e celebrar a nossa fé
com esta gente, partilhar vida e alimentos sempre contemplando um sorriso
rasgado nos lábios de todos com quem me cruzava. Mais uma vez Deus se fez
presente de maneira quase tangível, ensinando-me que na luta e sofrimento desta
gente, a Fé em Deus misericordioso é força para encarar um novo dia com a
valentia de um guerreiro.
Terminada a segunda etapa, dirigi-me mais para o
sul da Índia, para o Estado de Tamil Nadu. Aqui tive a sorte de conhecer um lar
chamado “manasu” que acolhe pessoas com doenças ao nível mental, grande parte
delas sem-abrigos, encontradas quase moribundas nas ruas da grande cidade de
Chennai. Estas pessoas são gratuitamente acolhidas neste lar e são tratadas até
alcançarem as mínimas condições para poder voltar às suas casas de forma autónoma.
Um enorme projeto ao nível humano, onde vi a total entrega dos nossos irmãos a
cada um destes doentes.
Seguidamente foi tempo de parar… durante 10 dias
estive num templo de meditação budista em regime de silêncio estrito,
alimentando-me só de comida vegetariana, dedicando-me a aprender um método de
meditação oriental: Vippsana. Este método pretende que alcancemos a purificação
da mente através da contemplação do nosso corpo, vendo as coisas tal como elas
são e não como nós desejamos que sejam, pois tudo na vida é perecível. Sem dúvida
uma experiência que me ajudou a crescer espiritualmente.
Depois desta paragem, visitei outra comunidade: a
comunidade Kavasam. Esta comunidade oferece às pessoas da aldeia onde está
inserida medicina alternativa, pois muita desta gente não tem acesso à sanidade
devido à sua severa pobreza e a que os hospitais mais próximos se encontram a
horas de distância. Vi olhares de agradecimento a estes missionários que, não
sendo médicos, fazem autênticos milagres na vida de muita desta gente.
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