Índia e Sri Lanka: terras de esperança e missão - Parte 2

Passada esta alegre semana, foi tempo de começar uma nova experiência um pouco mais dolorosa.
Partilhei missão com os Missionários da Caridade em Calcutá, vivi com eles como mais um irmão e ajudei no que podia na missão que levavam a cabo: um leprosário. Durante uma semana acompanhei a doentes de lepra, pessoas que, tal como no tempo de Jesus, continuam a ser fortemente desprezadas na sociedade da Índia. Durante esta semana vi muito sofrimento, muitos rostos de Cristo no meio de alguns gemidos de dor. Rezei diante de alguns doentes, doentes que já estavam quase moribundos e prestes a dar o último suspiro. Presenciei muitas feridas, tanto por fora como por dentro, mas principalmente presenciei como Deus se faz presente no meio destas pessoas por meio dos irmãos que tentam devolver a estas pessoas a dignidade que um dia esta doença lhes tirou. Que Deus os continue a abençoar nesta exigente missão.


A experiência seguinte foi em mais um colégio claretiano. Colégio maior que o primeiro, onde a realidade de pobreza não era tão dura. Tive a oportunidade de partilhar algum conhecimento com os alunos, pois no colégio a língua oficial era o inglês. É muito bonito ver como os claretianos tentam oferecer a estas crianças e jovens uma educação de qualidade em valores, respeito e conhecimento, onde a fé tem um valor crucial. Visitei algumas aldeias dos arredores e vi como tanta gente vive pobremente do que colhe da terra, mas que ainda assim não hesita em dar o que tem dando sempre graças a Deus por isso! Mas que grande exemplo de fé!






    Na semana seguinte, já em Outubro, voltei ao seminário onde fiquei na primeira semana e celebrei juntamente com os irmãos o Dia de Santo António Maria Claret. Foi uma celebração muito bonita e bem preparada, onde dei novamente graças a Deus pela experiência que estava a viver, dei graças a Deus pela Congregação dos Missionários Claretianos, e sobretudo por estar a celebrar o mesmo carisma e fé noutro lado do planeta, numa cultura totalmente distinta, mas com a mesma alegria de sentir-me Filho do Imaculado Coração de Maria. Que o seu coração de mãe me continue a servir de exemplo.



Desde Calcutá viajei para o Nordeste da Índia para iniciar a segunda etapa desta missão. Nesta zona a nossa missão consiste em acompanhar a diversas tribos quase indígenas, nos limites entre a Índia e o Bangladesh. Confesso que as semanas que passei nesta zona tiveram um tom especialmente missionário. Os acessos às aldeias eram muito maus, com estradas em péssimas condições onde, para percorrer 20 km, demorámos cerca de uma hora e meia. O estado simplesmente ignora esta acolhedora e generosa gente e nós, missionários, temos de ser a voz profética que luta pelos direitos de cada um. Pude conhecer dois colégios, acompanhar as crianças e jovens que neles estudavam e visitar algumas famílias que uma vez mais me acolheram qual rei com o melhor que tinham nas suas humildes casas de palha e bambu. Pude vislumbrar e celebrar a nossa fé com esta gente, partilhar vida e alimentos sempre contemplando um sorriso rasgado nos lábios de todos com quem me cruzava. Mais uma vez Deus se fez presente de maneira quase tangível, ensinando-me que na luta e sofrimento desta gente, a Fé em Deus misericordioso é força para encarar um novo dia com a valentia de um guerreiro.







Terminada a segunda etapa, dirigi-me mais para o sul da Índia, para o Estado de Tamil Nadu. Aqui tive a sorte de conhecer um lar chamado “manasu” que acolhe pessoas com doenças ao nível mental, grande parte delas sem-abrigos, encontradas quase moribundas nas ruas da grande cidade de Chennai. Estas pessoas são gratuitamente acolhidas neste lar e são tratadas até alcançarem as mínimas condições para poder voltar às suas casas de forma autónoma. Um enorme projeto ao nível humano, onde vi a total entrega dos nossos irmãos a cada um destes doentes.

Seguidamente foi tempo de parar… durante 10 dias estive num templo de meditação budista em regime de silêncio estrito, alimentando-me só de comida vegetariana, dedicando-me a aprender um método de meditação oriental: Vippsana. Este método pretende que alcancemos a purificação da mente através da contemplação do nosso corpo, vendo as coisas tal como elas são e não como nós desejamos que sejam, pois tudo na vida é perecível. Sem dúvida uma experiência que me ajudou a crescer espiritualmente.


Depois desta paragem, visitei outra comunidade: a comunidade Kavasam. Esta comunidade oferece às pessoas da aldeia onde está inserida medicina alternativa, pois muita desta gente não tem acesso à sanidade devido à sua severa pobreza e a que os hospitais mais próximos se encontram a horas de distância. Vi olhares de agradecimento a estes missionários que, não sendo médicos, fazem autênticos milagres na vida de muita desta gente.





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