A fé na doença da Matilde

    Para mim, falar de Fé ou de Deus, Jesus, é sempre difícil, mas o desafio foi falar sobre a Fé e de como esta me ajuda a ultrapassar a doença da Matilde... Para mim, a Fé é como o ar que respiramos: não o vemos, mas sabemos que dependemos dele para viver...sem Fé também não conseguimos acreditar em Jesus.


    Claro que, perante uma adversidade inesperada, quem é que não treme e não sente a sua Fé abalada...e se pergunta: será que acredito mesmo?

    Falar sobre a Matilde e os seus primeiros anos de vida dava um livro, pois existiram muitos episódios intensos de alegria, aflição, choro, internamentos, idas às urgências e as terapias, desde os 6 meses até aos dias de hoje e que vão continuar...Embora, com tudo isto, a Fé esteve presente desde as 24h de vida, após ela, um bebé de termo, ter ido parar à Neonatologia. Costumo rezar e pedir pelos outros (foi assim que me ensinaram) mas naquele momento vi-me a rezar e a pedir para que ficasse bem...para que a Matilde viesse para casa...ainda demorou e voltou à neonatologia depois de 2 dias em casa, com apenas 10 dias de vida. 


    Não sabia o que aí vinha, e veio uma montanha gigante. Difícil, descubro...pois a cada dia que passava a Matilde sobrevivia sem haver prognóstico. Não sabíamos o que tinha e, como tal, o que poderia afetar. Será que vai andar? Falar? Apenas uma hipotonia generalizada...mas Deus mandou-me alguns anjos e a Fé revelou-se aí!

    Anjos sem asas...desde as enfermeiras, até alguém que está de férias e vai ao hospital para me explicar o que é tudo aquilo para um bebé e o porque de estar internada na neonatologia. Mais tarde, alguém a quem ligava a qualquer hora do dia e da noite. Anjo de nome Paulo Freitas (enfermeiro) e me atendia sempre. E mais tarde, as terapeutas do Hospital de São João. Já para não falar no apoio e na retaguarda familiar. Todos foram e são importantes, e sabem quem são.


    Acho que a Fé esteve presente para que confiasse em cada uma destas pessoas e em cada vitória que a Matilde conquistava e continua a conquistar até hoje...Agarrava-me a agradecer as vitórias e, sempre que entrava numa igreja pela primeira vez, onde nunca tinha estado, pedia pela Matilde e pedia para voltar lá e agradecer o que conseguisse. 


    Claro que houve momentos em que rezei muito a Nossa Senhora de Fátima, pois acredito muito no seu poder e nesse lugar mágico...e posso afirmar que alguns anjos continuam a existir na vida da Matilde. Na escola e no seu dia-a-dia. Todos os que acreditam nela, não desistem dela e nos ajudam mas, sobretudo, a ajudam.

    A minha Fé existe porque Deus nos dá, não quando pedimos, mas quando precisamos, e assim têm sido as vitórias da Matilde. Ganhamos algumas batalhas e, para continuar a ganhar, temos de acreditar. A Fé sente-se, vive-se nestas pequenas alegrias e nos pequenos milagres. Como costumo dizer, o mar é imensos e também podem ser assim os corações dos homens e mulheres. A perseverança e resiliência são Fé, mesmo quando os nossos planos e sonhos desaparecem...resta-nos ir em frente, acreditar e nunca baixar os braços.

Bárbara Silva, mãe da Matilde, 9 anos, Distrofia Miotónica de Steinert




















Comentários