Incêndios 15/Out/2017 - o meu testemunho

    Esta semana ainda não tinha publicado nada porque não sabia muito bem como escrever isto. No Domingo, dia 15/10/2017, vinha eu no alfa que saiu de Lisboa rumo a Braga, para voltar a casa. Não fazia a mínima ideia de como estava o país nesse dia, senão não me tinha metido no comboio.

    Estávamos já a uns 15 minutos de Coimbra quando o revisor avisa que vamos ficar retidos em Coimbra, devido a um incêndio que tinha cortado a linha. Após uma hora de espera, sem termos informações de quando o comboio poderia avançar, saímos de Coimbra rumo a Aveiro: a linha tinha sido reaberta.

    Contudo, paramos logo a seguir, em Pampilhosa, pois a linha estava novamente cortada. Aí esperamos cerca de 30 minutos, até que a Proteção Civil deu, de novo, ordem para reabrir a linha. Acontece que uns minutos depois começamos a ver cinzas em brasa de ambos os lados da linha. O cenário queimado era devastador. Mas mais à frente as cinzas em brasas passaram a chamas altíssimas, que cruzavam o comboio e atingiam as janelas do mesmo. Era uma extensão de fogo de ambos os lados que perfaziam quilómetros. Não se viam estradas nem bombeiros por perto. Estávamos literalmente no meio do fogo incontrolável.


    Nesse momento, o maquinista teve o sangue frio de acelerar o mais que pôde para nos tirar das chamas. Obrigada sr. maquinista! Mas o meu pensamento foi o de Pedrógão. Se alguma coisa caía na linha, ou o sistema elétrico não aguentava, ficávamos ali, no comboio, no meio das chamas. O sinal móvel falhava e estávamos incontactáveis. Sim, vi a minha vida por um fio e nunca tive tanto medo na vida. Mas Deus estava lá e precisa de nós aqui!

    Agradeço a Deus por ter saído com vida daquele inferno. Agradeço a Deus pelos bombeiros incríveis do nosso país, que deixam as suas famílias e casas para salvar as nossas. Agradeço a Deus por todos os portugueses que se viram a defrontar as chamas e que o fizeram com toda a garra que nos caracteriza.

    Mas peço a Deus que ilumine o Governo e ao Governo que, de uma vez por todas, descubram a solução e prendam aqueles que gostam de ver o país a arder. Porque não são necessárias mais vidas para abrir os olhos. Não são necessárias novas tragédias para que Portugal acorde. 

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