Casa Claret 2014 - 22 de Agosto de 2014

    8 dias! Tenho apenas 8 dias para aproveitar ao máximo este país, esta gente, esta cultura, esta parte de mim. Hoje é dia de lar D. Simôa para mim. Como tal, cá estou a escrever, sentada no gabinete da diretora do lar, após uma manhã diferente com os idosos.
    Mal chegamos, percebemos que os preparativos para a atividade estavam em marcha: ir à praia. Ouvíamos dizer que eram 15 idosos para irem à praia, mas à nossa frente apenas tínhamos uma carrinha de caixa aberta, mais pequena que a nossa, para fazer o transporte de toda a gente.
    "Sardinha em lata: check!" Foi este o meu pensamento. Qual não é o meu espanto quando o Arlindo (o motorista) abre a porta da caixa aberta e coloca lá dentro um banco de jardim, verde e de madeira, para sentar os idosos. Mas atenção, a caixa aberta era impossível de fechar, pelo que a proteção de segurança era algo...inexistente. "Vamos perder alguém em andamento!" É inevitável pensar isto! E não resisti a deixar tudo fotograficamente registado, porque só mesmo em STP para ver algo assim. O Pedro só me dizia: "Faz de conta que é tudo normal." E, na verdade, já espero tudo deste país, pelo que fazer de conta que é tudo normal não é nada difícil. 
    Aos poucos, meios encavalitados, lá se instalaram para uma primeira viagem até à praia Milla / Lagarto. Eu e o Pedro fomos à frente com o Arlindo e, a acompanhar o grupo, foi a Bela, a D. Filó e a Margaret, funcionárias do lar. Ao chegar à praia, começaram a tirar a roupa para gozar da manhã diferente a que tinham direito. Do nada, olhamos para o lado e vemos a D. Gracinda a correr, com um enorme sorriso na cara, em direção ao mar. Mergulhou e começou a nadar toda feliz. Parecia um patinho dentro de água, deliciada com algo tão simples como nadar no mar.
    A ela, seguiram-se mais uns quantos, uns mais tímidos que outros, que esboçavam igualmente um sorriso quando a água envolvia os seus pés. Foi engraçado ver a felicidade deles por estar dentro de água. Uns rebolavam dentro de água, outros nadavam e outros iam, pouco a pouco, molhando o corpo. Nós parecíamos paparazzis a fotografar e filmar a felicidade deles. Até poses para a fotografia faziam. Ainda dizem que os idosos não gostam disto!
    Como a D. Gracinda, fui fazer ginástica: correr ao pé do mar. E dizia ela: "Energia Joana!" e sorria feliz, com um brilho no olhar. De repente, surgiu uma equipa de filmagens alemã, que andam a filmar um roteiro turístico e gastronómico de África. Quiseram filmar aquele momento, mas sem os brancos, ou seja, sem nós. Filmaram-nos a dançar e a fazer exercício, entrevistaram a Margaret e a D. Margarida e filmaram o lanche do meio da manhã: sumo, pão e água de coco.
    Confesso que achei que as câmaras grandes, a equipa de filmagem e os "guiões" os inibiu um bocado. Pensei para mim: "Mais uma vez, o homem vem destruir a beleza e genuinidade deste povo." A verdade é que, ao tentarem captar as melhores imagens, perderam-nas. Sem guiões, câmaras profissionais ou equipa de realização, nós conseguimos sorrisos bem mais genuínos e puros, olhares mais brilhantes e, o melhor de tudo, ganhamos momentos que ficarão para toda a vida gravados na memória do nosso coração.
    Ao regressar ao lar, foram muitos aqueles que nos agradeceram por termos feito parte daquele momento feliz da vida deles. Foram gestos sinceros, de coração para coração, como os verdadeiros amigos sabem fazer. Hoje, tornamos possível a vontade de Deus: dar aqueles que já muito nos deram, um dia diferente e feliz.







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(continuação)

"Ser velho é sentar-se e esperar o tempo para ir para o buraco." Sr. Luís, Lar Dona Simôa Godinho

"Para quê muito dinheiro? Quando há uma doença o dinheiro vale zero!" Sr. Severiano, Lar Dona Simôa Godinho

    A parte da tarde no lar foi de conversa com três idosos: o Luís, o Severiano e a Riquieza. O Sr. Luís contou-me que os filhos não queriam saber dele e, como tal, não tinha família. Então, disse-me que estava a ver passar o tempo, à espera de morrer. Também me contou que a ferida que teve na perna curou porque entregou a sua vida a Deus. Percebi aí que, apesar da sua dura vida, era um homem de fé. Com o avançar da conversa e com as minhas brincadeiras, lá lhe arranquei uns sorrisos. Então pensei: "Missão cumprida!"
    Também em conversa com o Sr. Severiano, disse-lhe que tinha ido de calções para poder bronzear e ficar da cor deles. "A Joana é muito pálida!", disse-me ele. Lá lhe perguntei qual seria o segredo para o meu problema, ao que me respondeu: "Pinta! Pinta tudo que fica ótimo!" E eu continuei: "Você é pior do que eu! Eu digo esfola, você diz mata." Então, o Sr. Severiano dá-me uma cotovelada carinhosamente e responde: "Pois é! Pois é!" Aí percebi mesmo que a minha missão no lar estava cumprida. Em algum momento, fiz-los feliz!

    Também esta tarde foi a última sessão na Rádio Jubilar. Foram pontuais e sentia-se uma nostalgia no ar. Tanto o Quaresma como o Sr. Avelino, nos seus discursos, me conseguiram arrepiar. É muito bom quando nos agradecem por termos dado o nosso melhor, por sermos como somos, por termos partilhado estas duas semanas com eles. E enche o coração quando vemos que eles evoluíram e que não foi um sacrifício estarem ali connosco. O Joel dizia-me muitas vezes "Vou ter saudades!". O Gil agradeceu-me por tudo em que o ajudei, e todo o restante grupo quis abraçar-nos e despedir-se. 
    Convidaram-nos para um pequeno "copo de água", para provarmos o búzio do mar, s moelas e a banana assada o que, por sinal, estava delicioso. Depois, entre fotos e sorrisos, lá nos despedimos, com a sensação (uma vez mais) de missão cumprida e de saudade. Dream team supera tudo!! Foi realmente bom trabalhar com o Tiago, que é dinâmico, extrovertido e divertido como eu, e que nos complementamos enquanto equipa de trabalho.






Lar D. Simôa - CHECK!
Rádio Jubilar - CHECK!

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