Casa Claret 2014 - 20 de Agosto de 2014

    E faltam apenas dez dias para regressarmos a Portugal. Já vou sentindo a nostalgia de não querer sair de cá, contrariada pela ânsia de abraçar os que amamos e aí ficaram.

    Hoje acordamos com um STP chuvoso. Mas não é aquela chuva molha tolos típica de cá. É uma chuva mesmo chuva! Daquelas que conhecemos de Portugal. (Dito assim parece que sou doida eheh) Mas cá não existe a possibilidade de "Ah..vou ficar em casa a ouvir a chuva cair." Aqui, os dias não param e os pequenos continuam à nossa espera. Assim, envolvidos nos impermeáveis, lá fomos até Batepá. Como não tínhamos lá as crianças, ficamos na sacristia com a D. Augusta, a dançar kizomba. Estava eu e a Catarina, com o Vani, o Esmael e o Edgar. Lá se levantou o Vani para dançar kizomba comigo e acho que não o deixei ficar mal.
    Quando as crianças chegaram, coloca-mo-las dentro da sala a fazer pinturas faciais, desenhos, bolas de sabão e a tirar fotos. Mal o sol acordou, com a corda e as bolas, a diversão continuou no recinto do santuário de Batepá. Mais uma vez me deliciei com o Charles e procurei cuidar daquele pequeno enquanto lá estive. Depois, voltei a ser criança e fui saltar à corda e  jogar ao elástico com os pequenos pestes. (Há quanto tempo não jogava ao elástico!!!) É muito bom voltar a ser criança, esquecer as preocupações e sorrir genuinamente com as pequenas coisas da vida.
    Também procurei perceber a história de vida do Esma. Vive sozinho, com apenas 17 anos, pois a mãe emigrou para Angola. Os irmãos vivem com um tio numa localidade longe daqui e o pai foi para Portugal e apenas lhes manda o dinheiro a que é obrigado. Ele sobrevive com o dinheiro que a mãe vai mandando para cá. Era notório o olhar triste e perdido com que nos contava parte da sua vida. Missão é também isto: conhecer o outro a quem nos entregamos.
    Outro momento engraçado do dia, foi a forma natural e espontânea com que fizemos chegar o nosso testemunho de fé aos pequenos de Batepá: cantar. Cantamos o «Grita comigo» e o «Wimoheh» com eles e sentimos Deus ali, entre nós, pois a felicidade e paz emanava naquela sala.
    Ao chegar a casa e, após almoçar e lavar a louça (tarefa que competia a mim e à Cris), apressei-me a ir tomar banho, para ficar pronta para a formação na rádio. Tomei um banho, mais para o frio que para o quente, porque aqui sabe bem o banho de água fria. Não pelo facto de ser bom tomar banho de água gelada, mas porque é bom sentirmos o que o povo de cá sente diariamente na pele. A isto se chama inculturização.
     Já de tarde, a formação na rádio correu mesmo muito bem! Conseguimos fazer duas dinâmicas, sete exercícios com repetições e sair 15 minutos mais cedo. Entre gargalhadas, treinos de «r's», pausas, respiração e projeção vocal, foi perceptível a evolução favorável do grupo. Ao longo da formação, esforçaram-se por superar as dificuldades que tinham, recorrendo aos nossos conselhos. É incrível como o entusiasmo deles os leva a vencerem as barreiras e, consequentemente, a puxarem por nós. É aqui que vemos que o nosso esforço e a nossa entrega estão a dar fruto, tal como Deus assim ensinava. O Bobzi já perdeu a vergonha, a Raquel melhorou os r's, a Patrícia melhorou a respiração, a dicção e a projeção vocal, entre tantos outros que realmente melhoraram bastante enquanto jornalistas.
    Outro coisa que quero partilhar hoje é o facto de ter estado a ver o jogo do FCP contra o Lille, para os play-offs da Liga dos Campeões. Quando estamos longe, vivemos intensamente isto, ainda mais do que em casa. Ora, como eu sou "doente" pelo FCP, vibrei com o jogo. Por várias vezes, a Bárbara disse "Ela até me deixa nervosa. Vais ter de desligar a televisão!", pois eu estava a comentar o jogo. Lá ganhamos 1-0 e eu gritei GOLOOOOO aqui na casa, onde existem alguns benfiquistas. Soube mesmo bem! eheheh
    Após o jogo, ou seja, após o jantar, o Edgar veio até cá com o Esma e pediu para me chamar. Na caminhada com eles, a Ana, a Cláudia, o David e a Catarina, ele contou-me que quer ser engenheiro, está no 11º ano (tem 17 anos) e diz ser homem de uma mulher só. Countou-me que o pai já teve 2 mulheres, mas que agora está apenas com a mãe dele. Este momento final deu para conhecer um pouco mais aqueles que nos acompanham e fortalecer amizades.
    Só para acrescentar, estes dois dias tivemos duas sobremesas especiais: uma bola de Berlim e um cornetto de chocolate. Lá dá para desougar da comida que gostamos.
    Quanto à vida em comunidade, penso que tem corrido bem e todo o grupo tem funcionado como grupo. Estamos divididos em pequenos grupos para a realização das tarefas domésticas e, penso que apesar disso, existe uma grande entreajuda entre todos, não cumprindo apenas o que nos compete. Também existe um esforço geral por cumprir os horários e respeitar os diferentes momentos do dia (oração, refeições, net, reunião, hora de despertar e levantar). Já no quarto tudo corre às mil maravilhas. Sou eu, a Cláudia, a Ana e a Andreia e dá-mo-nos muito bem. Temos respeitado todos os membros do quarto, inclusive os momentos de descanso, e partilhamos muito do nosso mês, desabafamos, tiramos fotos e selfies. Penso mesmo que a vida em comunidade está a correr muito bem.




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