Durante uma conversa informal sobre a missão e o
voluntariado, perguntaram-me qual era o encanto daquele país. Isto porque a
pessoa em questão tinha lá estado e só conseguia ver pobreza e maus gastos do
dinheiro enviado para lá.
Para
quem olha para São Tomé, afirma logo que o encanto do país são as suas
paisagens paradisíacas: praias convidativas, um mar azul transparente e quente,
e um país recheado de Natureza no seu esplendor. Sim, é verdade, São Tomé é o
paraíso! Mas não é isso que o torna encantador.
É
necessário olhar para lá do evidente. É preciso olhar com o coração, atento e
curioso. Se assim o fizermos, encontra-se a resposta: o encanto de São Tomé e
Príncipe são as pessoas. Os santomenses são um povo acolhedor, que abre os braços
para receber quem os quer conhecer. Um povo que se oferece para nos levar ao
destino que precisamos; que nos enche as carrinhas de
bananas, quando não o pedimos. Um povo que nos dá a provar a maior
variedade de frutos tropicais ou pratos típicos. Mas para conhecer, é preciso
querer, querer pertencer aquele povo. Inicialmente, recaem sobre nós os olhares
curiosos por ver tantos brancos juntos. Ouve-se “brrranco, brranco!” por onde
quer que passamos. Mas não é um branco de quem exclui; é um branco de quem abre
o coração e entrega a sua vida.
Inicialmente
existe uma timidez característica de quem não conhece. Dizemos o bom dia a
pessoas que, mais tarde, se vão tornando amigas. Conquistamos a cada dia o “Olá
branca”, genuíno e feliz, de quem um dia nos via como um estranho. Conquistamos
o «olá» que é acompanhado de corridas olímpicas e saltos em comprimento para o
nosso colo, onde repousam no abraço mais sincero de todos os tempos.
Deparamo-nos
com crianças e jovens ricos em sonhos. Ouvimos os desabafos de quem quer ser
professor ou médico. Contam-nos os seus projetos de vida, em como querem
constituir família e encontrar quem queira passar a vida ao seu lado. Crianças
e jovens que percorrem 2h a pé para ir para a escola, sem os ouvirmos dizer que
estudar é uma seca. Crianças e jovens que já vão descobrindo a felicidade de
ajudar o outro. Encontramos jovens que já são pais ou mães e que prescindem da
sua juventude para dar o melhor de si aos que viram nascer.
Descobrimos
também mulheres fantásticas, que são supermulheres, ao serem mãe, pai, dona de
casa e mulher. Mulheres que nos ensinam tudo o que sabem: os truques para levar
a criança ao colo, as receitas daqueles pratos típicos que nos fazem comer e
chorar por mais. Mulheres que deixam de lavar a sua roupa para nos ensinarem a
deixar a nossa branca e bonita, num banho de sabão que, por muito que tentemos,
custa a obter. Mulheres que gerem uma casa, sem que esta vá abaixo. E mesmo
assim, são mulheres que sorriem e agradecem a Deus cada dom que lhes oferece.
E
neste tesouro imenso, conhecemos também homens que lutam ou lutaram por uma
vida melhor para si e para os seus. Homens que ensinam a apanhar bananas, a
abrir um coco, a apanhar o melhor peixe. Homens com mãos sofridas, de quem dá
tudo para não perder a batalha. E mesmo assim, são homens que sorriem.
E,
depois, deparamo-nos com os dois topos do ciclo vital: os bebés e os idosos. Os
mais pequenos enfrentam as dificuldades do mundo em que vivem, na sua luta
diária por dar os primeiros passos ou por conseguir segurar a cabeça. Pequenos
seres recheados de vida, que retribuem os nossos olhares com sorrisos puros,
quando se percebem envolvidos nos nossos braços, capazes de os proteger de
qualquer adversidade. E perceber como nos alegramos mutuamente por cada vitória
conseguida. Já os idosos falam com o coração. Pessoas que viveram intensamente
para conquistar os seus objetivos e que nos contam de como conheceram a sua
cara metade, da profissão que tinham e dos ensinamentos que a vida lhes
encarregou de aprender. Pessoas sábias e meigas, que nos recebem como se
fossemos os seus netos, a quem sentem que podem transmitir o melhor deles.
E
isto é o tesouro santomense! Um tesouro composto pelos pais, mães, irmãos e
avós que me acolheram naquele país. Aquele pedaço de terra envolto em mar que
sendo deles, já é tão meu. Aquele coração do mundo onde, mesmo sendo de cá, já
pertenço lá.
Por
tudo isto, quando me perguntam qual é o encanto de São Tomé, eu respondo: o
encanto deste país são as pessoas. E assim se sente São Tomé.
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